Metralhadora Lewis
A metralhadora Lewis (ou Metralhadora Automática Lewis) é uma
metralhadora leve da época da Primeira Guerra Mundial, de desenho
norte-americano foi aperfeiçoada e amplamente usada pelo Império Britânico. Foi
usada pela primeira vez em combate na Primeira Guerra Mundial, e continuou em
serviço em enumeras forças armadas até o fim da Guerra da Coréia. Era
visualmente distinta por causa do largo tubo de resfriamento ao redor do cano e
um carregador do tipo tambor montado na parte superior da arma. Era frequentemente
usada em aeronaves, quase sempre com o tubo de resfriamento removido, durante
ambas as Guerras Mundiais.
História;
A metralhadora Lewis foi inventada em 1911 pelo Coronel
Isaac Newton Lewis, do Exército Norte-Americano, baseado no trabalho inicial de
Samuel Maclean. Apesar de suas origens, a metralhadora Lewis não foi
inicialmente adotada pelos militares Norte-Americanos - mais provável por causa
de diferenças políticas entre Lewis e o general William Crozier, Chefe do
Departamento de Material Militar. Lewis ficou frustrado com a tentativa de
persuadir o Exército Norte-Americano a adotar o seu projeto e assim se
aposentou. Ele deixou os EUA em 1913 e se dirigiu para a Bélgica (e logo depois,
o Reino Unido). Ele estabeleceu a companhia Armes Automatique Lewis em Liege,
na Bélgica, para facilitar a produção comercial da arma. Lewis trabalhou de
perto com a fábrica Britânica Birmingham Small Arms (BSA), em um esforço para
superar algumas das dificuldades de produção da arma. Os Belgas rapidamente
adotaram o projeto em 1913, usando o calibre .303 Britânico, e em 1914, a BSA
comprou a licença para fabricar a metralhadora Lewis no Reino Unido, que
resultou no Coronel Lewis recebendo pagamentos significativos de royalties e se
tornando muito rico.
O início da Primeira Guerra Mundial aumentou a demanda pela
etralhadora Lewis, e a BSA começou a produção (sob a designação modelo 1914). O
projeto foi oficialmente aprovado para serviço em 15 de outubro de 1915 sob a
designação "metralhadora, Lewis, cal.303". Nenhuma metralhadora Lewis
foi produzida na Bélgica durante a Primeira Guerra Mundial; toda a fabricação
foi realizada pela BSA no Reino Unido e a Savage Arms Company nos EUA.
Diferenças entre as metralhadoras Lewis Americana e Britânica;
A metralhadora Lewis foi produzida somente pela BSA e a
Savage Arms durante a Primeira Guerra Mundial e apesar das duas armas serem
muito parecidas havia diferenças suficientes para impedir que fossem completamente
intercambiáveis. As armas produzidas pela BSA não eram completamente
intercambiáveis com outras metralhadoras Lewis da mesma, contudo isso foi
retificado durante a Segunda Guerra Mundial.
A principal diferença entre os dois projetos era que as
armas da BSA eram alimentadas por munição calibre .303 Britânica e as armas da
Savage eram alimentadas por cartuchos .30-06, o qual nessecitava alguma
diferença no carregador junto ao mecanismo de alimentação, ferrolho, cano,
extratores, e o sistema de operação a gás. A Savage não fabricou metralhadoras
Lewis com o calibre .303 Britânico; o Modelo 1916 e o Modelo 1917 eram
geralmente produzidos com o calibre .30-06, alguns exemplares dessas armas
foram enviadas para o Reino Unido sobre o programa Emprestimo e Arrendamento
durante a Segunda Guerra Mundial.
Detalhes do Projeto;
A metralhadora Lewis era operada a gás. Uma porção da
expansão do gás propelente era expulsado para fora do cano, conduzindo um
êmbolo à retaguarda contra uma mola. O êmbolo era encaixado com uma coluna
vertical, na sua retaguarda, que andava em uma pista de came helicoidal no
ferrolho, girando-o no final de seu percurso próximo da culatra. Isso permitia
os três engates na parte traseira do ferrolho engatarem em recessos no corpo da
arma para travá-lo em seu lugar. A coluna também carregava o percutor fixado, o
qual se projetava através de uma abertura na frente do ferrolho, disparando o
próximo cartucho na parte dianteira do percurso do êmbolo.
A arma foi projetada com um revestimento no cano em
alumínio, o qual usava a explosão na boca do mesmo para aspirar ar para dentro
da arma e refrigerar o mecanismo interno. Há uma discussão sobre se o tubo de
resfriamento era efetivo ou sequer necessário - na Segunda Guerra Mundial
muitas arma velhas usadas em aeronaves, as quais não tinham o tubo, foram
providas à unidades anti-aéreas da Guarda Nacional Britânica e para aerodrómos
britânicos. Outras armas eram usadas montadas em veículos no Deserto Ocidental
e não tiveram problemas de resfriamento sem o tubo. Descobriu-se que funcionava
apropriadamente sem ele, o que levou a suposição de que Lewis havia insistido
na colocação do tubo de resfriamento para mostrar que o seu projeto era
diferente dos primeiros protótipos de Samuel Maclean. Somente a Marinha Real
manteve os tubos nas suas metralhadoras Lewis anti-aeréas que eram montadas nos
deques dos navios.
A metralhadora Lewis utilizou dois carregadores do tipo
tambor diferentes, um contendo 47 cartuchos, o outro 97. Diferente de outros
modelos, o tambor da Lewis era acionado mecanicamente por um ressalto em cima
do ferrolho o qual operava um mecanismo retentor por meio de uma alavanca.
Um ponto interessante do projeto foi que ele não usa uma
mola enrolada helicoidal tradicional, mas sim uma mola em espiral, muito
parecido com uma mola grande de relógio, em um alojamento semi-circular bem na
frente do gatilho. A haste operacional tinha o lado inferior dentado, o qual se
encaixava com uma engrenagem que tocava a mola. Quando a arma disparava, o
ferrolho recuava e a engrenagem girava, apertando a mola até sua resistência
alcançar a força de recuo da câmera do ferrrolho. Nesse momento, como a pressão
do gás na culatra caiu, a mola desenrolava, virando a engrenagem, a qual, no
giro, tocava a haste operacional pra frente para o próximo tiro. Tal como
acontece com uma mola de relógio, o recuo da mola da metralhadora Lewis tinha
um dispositivo para ajustar a resistência do recuo para variações na
temperatura e desgaste. Incomun como parece, o projeto da Lewis provou ser de
duradoura confiança, e ainda foi copiado pelos Japoneses e usado extensivamente
por eles durante a Segunda Guerra Mundial.
A cadência ciclica de fogo era de aproximadamente 500-600
tiros por minuto. Pesava 28 lb (12.7 kg), cerca de metade do peso das
metralhadoras tipícas da época, como a Vickers, e foi escolhida em parte
porque, sendo mais portátil que uma metralhadora pesada, podia ser carregada e
usada por um único soldado. A BSA também produziu pelo menos um modelo (a
"B.S.A. Metralhadora Lewis Modelo Leve de Infantaria", o qual não
tinha a capa de alumínio do cano e tinha um punho do tipo pistola de madeira
localizado em baixo do mesmo) projetado como uma forma de arma de assalto.
Primeira Guerra Mundial;
O exército Belga foi a primeira força militar a adotar a
metralhadora Lewis; quando os alemães a encontraram pela primeira vez em 1914
(enquanto combatiam os Belgas), eles a apelidaram de "A Cascavel
Belga".
Os Britânicos oficialmente adotaram a metralhadora Lewis
calibre .303 para uso em terra e em aeronaves em outubro de 1915, com a Marinha
Norte Americana e o Corpo de Fuzileiros Navais no começo de 1917, adotando a
metralhadora Lewis M1917 (produzida pela Savage Arms Co.), com calibre .30-06.
O exército Norte-Americano nunca adotou oficialmente a arma
para uso da infantaria e ainda chegou ao ponto de tirar a metralhadora Lewis
dos Fuzileiros Navais Norte-Americanos enquanto chegavam a França e a
substituiram pela barata, inferior, e extremamente insatisfatória metralhadora
leve Chauchat francesa - uma prática que acreditavasse estar relacionada a
antipatia que o General Crozier tinha pelo Coronel Lewis e sua arma. O exército
Norte-Americano eventualmente adotou o BAR (Browning Automatic Rifle) em 1917.
A Marinha Norte-Americana e o Corpo de Fuzileiros Navais continuaram a usar a
Lewis calibre .30-06 até a parte inicial da Segunda Guerra Mundial.
O Império Russo comprou 10,000 metralhadoras Lewis do
Governo Britânico em 1917, e encomendou outras 10,000 armas da Savage Arms nos
EUA. O Governo Norte-Americano estava relutante em prover o Governo Russo
Czarista com armas e há alguma suspeita se foram realmente entregues, embora os
registros indiquem que 5,982 armas da Savage foram entregues para a Rússia em
31 de março de 1917. As metralhadoras Lewis providas pelos Britânicos foram
expedidas para a Rússia em maio de 1917, mas há uma confusão se estas foram as
armas fabricadas pela Savage sendo transportadas em navios passando pelo Reino
Unido, ou um lote separado de unidades produzidas no Reino Unido.
Tanques Britânicos Mark IV usaram a Lewis, substituindo a
Vickers e a Hotchkiss usadas em tanques anteriores. A Lewis foi escolhida por
causa do seu carregador relativamente compacto, mas assim que um carregador por
fita melhorado foi desenvolvido para a Hotchkiss, a Lewis foi substituída por
elas em modelos posteriores do tanque.
Os Alemães também usaram metralhadoras Lewis capturadas em
ambas as Guerras Mundiais, e incluíam instruções sobre seu funcionamento e
manutenção como parte do treinamento de suas guarnições de metralhadora.
Apesar de custar mais que a metralhadora Vickers para se
fabricar (o custo de uma metralhadora Lewis em 1915 era de £165, e a Vickers
cerca de £100), as metralhadoras Lewis estavam em alta demanda com os militares
Britânicos durante a Primeira Guerra Mundial. A Lewis também tinha a vantagem
de ser cerca de 80% mais rápida de se fabricar que a Vickers (e era muito mais
portátil), assim, as encomendas foram feitas pelo Governo Britânico entre agosto
de 1914 e junho de 1915 por 3,052 armas. Ao final da Primeira Guerra Mundial
mais de 50,000 metralhadoras Lewis foram produzidas nos EUA e Reino Unido e
elas estavam quase onipresentes no Fronte Ocidental, excedendo em números a
Vickers em uma proporção de 3:1.
Uso em Aeronaves;
A metralhadora Lewis têm a distinção de ser a primeira
metralhadora disparada de uma aeronave; em 7 de junho de 1912 o Capitão Charles
Chandler do Exército dos EUA disparou um protótipo da metralhadora Lewis de uma
aeronave Wright Model B Flyer.
A metralhadora Lewis foi extensivamente usada nas aeronaves
Britânicas e Francesas durante a Primeira Guerra Mundial, quer como arma de
observador ou de atirador, ou como uma arma adicional à mais comum Vickers. A
popularidade da Lewis como metralhadora aérea foi em parte devido ao seu baixo
peso, o fato que era refrigerada a ar e que usava carregadores do tipo tambor
independentes com 97 tiros. Por causa disso, a Lewis foi montada nos dois
primeiros exemplares de produção da aeronave Bristol Scout C por Lanoe Hawker
no verão de 1915, montada a bombordo e atirando para frente e para fora em um
ângulo de 30° para evitar o raio da hélice.
O sistema de ferrolho giratório da Lewis impediu-a de ser
sincronizada para disparar diretamente para frente através do raio da hélice de
um caça monomotor, somente os caças Britânicos Airco D.H.2 e o Royal Aircraft
Factory F.E.8, que tinham a hélice virada para trás, podiam facilmente usar a
Lewis como armamento de tiro direto para frente no inicío da Primeira Guerra
Mundial. Para uso de observadores e atiradores da cauda, a Lewis era montada em
um anel scarff (um tipo de reparo usado em aeronaves), o qual permitia à arma
ser rotacionada e elevada enquanto suportava o seu peso. Metralhadoras Lewis
eram frequentemente empregadas na função de atacar balões, carregada com
munição incendiária desenhada para causar a queima do hidrogênio dentro dos
balões de gás dos Zeppelins alemães.
Mais tarde, nos franceses Nieuport 11 e Nieuport 17, no
britânico S.E.5a, e algumas versões do Sopwith Camel e o Bristol F2b, a Lewis
era fixada acima da asa superior em um reparo Foster, o qual permitia disparar
diretamente para frente fora do raio da hélice. A arma podia ser oscilada de
volta ao cockpit em um trilho para perimitir que o tambor de munição fosse
trocado em voo, mas o ás da aviação Albert Ball V.C. também descobriu que
mantendo o gatilho original da arma ela podia portanto, ser disparada para
cima. Ele usava o fogo ascendente da Lewis para atacar aeronaves alemãs
bipostas solitárias por baixo e atrás onde o observador da cauda não podia
vê-lo ou atirar de volta. Foi o seu uso da arma desta forma, em um Nieuport,
que levou mais tarde a sua introdução no S.E.5/S.E.5a. Ball agiu na qualidade
de consultor no desenvolvimento deste avião.
Metralhadoras Lewis foram também transportadas como armas
defensivas em dirigíveis britânicos. Os dirigíveis da classe SS transportavam
uma arma. Os dirigíveis maiores da classe NS transportavam duas ou três armas
na cabine de controle, e alguns eram equipados com uma arma adicional e um
posto de atirador no topo do balão de gás.
Segunda Guerra Mundial;
Na Segunda Guerra Mundial, o Exército Britânico substituiu a
metralhadora Lewis pela metralhadora Bren em sua maioria para uso da
infantaria. Como uma arma aerotransportada, a Lewis foi amplamente
suplantada pela Vickers K, uma arma que podia alcançar o dobro da
cadência de tiro da Lewis.
Na crise que se seguiu a Queda da França, onde uma grande
parte do equipamento do Exército Britânico foi perdido, estoques de
metralhadoras Lewis em ambos os calibres .303 e .30-06 foram colocadas em
serviço as pressas, primeiramente para armar as unidades da Guarda Nacional e
em propósitos como os de defender campos aéreos e uso como arma anti-aérea. 58,
983 metralhadoras Lewis foram retiradas de lojas, reparadas, reaparelhadas e
emitidas pelos Britânicos durante o andamento da Segunda Guerra Mundial. Além
do seu papel de reserva de armas no Reino Unido, elas também tiveram uso na
linha de frente com as forças Britânicas, Australianas e as Neo Zelandesas nos
primeiros anos da campanha do Pacífico contra os Japoneses. A metralhadora
Lewis também continuou em serviço como uma arma anti-aérea durante a Segunda
Guerra Mundial; nessa função foi-lhe creditada pelos Britânicos como a arma
anti-aérea que mais derrubou aeronaves inimigas em voos razantes.
Forças Norte-Americanas usaram a metralhadora Lewis (no
calibre .30-06) durante a Segunda Guerra Mundial. A Marinha dos EUA usava a
arma em navios mercantes armados, pequenos barcos de auxílio, embarcações de
desembarque e submarinos. A Guarda Costeira dos EUA também usou a Lewis em suas
embarcações. Apesar de ser originalmente um projeto Norte-Americano, ela nunca
foi oficialmente adotada pelo exército dos EUA para nada além do que uso em
aeronaves.
Os Alemães usaram metralhadoras Lewis Britânicas capturadas
durante a Segunda Guerra Mundial sob a designação MG 137(e), enquanto que os
Japoneses copiaram o desenho da Lewis e a empregaram extensivamente durante a
Segunda Guerra Mundial; ela foi designada Tipo 72 e o cano foi trocado para uso
do cartucho semiaro de 7,7 mm que era intercambiável com a munição .303
britânica.
A Lewis foi oficialmente retirada do Serviço Britânico em
1946, mas continuou a ser usada por forças que operavam contra as Nações Unidas
na Guerra da Coréia. Ela também foi usada contra os Franceses e os
Norte-Americanos na Primeira Guerra da Indochina e na subsequente Guerra do
Vietnã.
A produção total da metralhadora Lewis pela BSA foi de mais
de 145,000 unidades, um total de 3,550 armas foram produzidas pela Savage Arms
Co. para Serviço nos EUA- 2,500 no calibre .30-06 e 1,050 no ,303
Britânico.
Influência sobre os projetos posteriores;
O rifle Alemão FG42 usou a mola principal tipo relógio da
Lewis, a metralhadora M60 também tem alguma semelhanças do projeto em relação
ao ferrolho e os grupos do êmbolo de gás e do percutor.